25.11.04

Amanhecer

---Quando acordei, pensava diferente dos outros amanheceres. Tinha em mente o impossível, o não antes imaginável. Pensava em novas possibilidades, talvez em novas mudanças e aprendizados.
---O dia foi passando e fui notando diferentes maneiras de ser tocado. Fui observando horizontes novos e aprendendo. Fui aprendendo a tolerar, a conviver, a exercer todo o controle do mundo sobre mim mesmo. Fui aprendendo a ignorar as árvores que olhavam para mim estranhamente. Na verdade, nem sei se olhavam.
---Fui a notar quão difícil era discernir os olhares e quão fácil era viver a vida. As diferenças faziam valer a lei do senso comum, de origem na eletrodinâmica: os opostos se atraem. As semelhanças, por sua vez, desdiziam qualquer racionalidade de cunho científico ou vulgar. Até elas atraíam.
---Resta-me saber o que acontecerá, então. Resta-me esperar que os meus anseios se esvaiam ou que sejam alimentados. Somente o que posso fazer é esperar que o cosmos, a sincronicidade, a entropia, as energias - enfim, o tempo - respondam-me o que nem sequer sei perguntar. E se a vida não me conduzir aos caminhos para os quais pareço querer ser levado, bastam-me os olhares e toques sutis, não obstante possam ser gotas serenas de ilusão.