A longa história de Joaninha, filha de Maria, que, um dia, não tinha o que fazer.
Parte I – Do tédio à condução. Essa história, meus senhores Que aqui lhes vou contar Já causou bastantes dores Pra chegar onde hoje está Joaninha, certo dia, ‘Tava em casa, entediada E chamou sua mãe, Maria P’ra sair: p’ra fazer nada. Sem saber, as duas damas, ‘Onde exatamente ir Arrumaram suas camas E puseram-se a sair Pensativas, ao partir, Caminharam p’ra parada Concluíram que sair É melhor que fazer nada Decidiram, por acaso, A primeira condução Que passava bem à frente Lá da Feira do Capão. Parte II – A feira Seu José, o motorista, Dirigia sempre à frente Viu a Feira em meio à pista E foi freando, de repente. Desceu um, desceram dois E a terceira foi Maria Joaninha, então, depois, Resolveu que desceria Quantas frutas, quantas roupas E liquidificadores! Quantos gatos, quantos ratos, Quanta coisa, meus senhores! Joaninha abriu a boca E assim fez também Maria Por aquela feira louca Uma ia ‘onde outra ia Ia o dia, vinha a tarde E as moças nada compravam Mas foi um súbito alarde Que as tirou lá de onde estavam “Quinhentinhos! Quinhentinhos!” Se esgüelava um vendedor “Vendo a preço de banana O melhor computador”. Joaninha ficou tonta Doida, sem acreditar Segundo sua mãe conta, Quase forçou-lhe a comprar. Parte III – A novidade Com a nova aquisição Acabou-se esta cilada De acordar fim-de-semana E ficar sem fazer nada Pois, algum tempo depois Joaninha, aos dezessete, Adorava aqueles dois: O pecê e a Internet. De varar a madrugada, Trocar noite pelo dia Nunca ficava cansada Preocupando, assim, Maria. “O que vê de interessante No tal de computador? Eu, que sou mãe desde sempre, Nunca tive tanto amor.” Se pensam que neste ponto Lhes contei todas as dores Peço-lhes que tenham calma E se acalmem, meus senhores! Parte IV – O amor A garota viciada Descobriu um bate-papo E ficou tão empolgada “Que barato! Que barato!” Do agreste da Bahia Às cidades do Japão Joaninha falaria Com José, Paulo e João Neste mundo, conhecera O grande amor da sua vida Se parece brincadeira Vou contar que houve em seguida Da mesada que ganhava Ao dinheiro do busão Joana nada gastava Nem sequer comprava pão Queria juntar dinheiro Pra uma nova aquisição Acreditem, meus senhores Ia conhecer João. Ela, cá de Santarém Ele, de Boa Viagem Ela juntou tanta grana E deu conta da passagem Sem saber o que fazer, A mãe tentou proibir Mas de nada adiantou Quis, a todo custo, ir. Parte V – O susto Joaninha, no avião, Quase não acreditava Ia conhecer João E, ao seu encontro, voava E pouco tempo depois Chegou a hora do pouso Joaninha arrepiou: Deu-lhe um súbito nervoso Esperou cinco minutos Sem notícias de João O aeroporto cheio Lhe causava confusão. Passados trinta minutos Começou ela a chorar E chamou toda a atenção Das pessoas do lugar. Uma moça aproximou-se E perguntou: “Por que chora”? “Meu amor me buscaria, mas já se passou a hora” A moça, tão preocupada Parecia ter-lhe dó Sua tez estava amarga Mais amarga que jiló Disse ela a Joaninha “Não chora, pra que chorar? Estou certa, Joaninha, De que o seu amor virá!” Assustada, Joaninha Disse-lhe: “Sabes quem sou?” A moça, então, mais doce, Disse: “Sou eu teu amor”. Parte VI – Final Joana franziu a testa A moça olhou de soslaio A moça deu um sorriso Joana teve um desmaio Ao se despertar, estava, Numa cama de solteiro Dona moça, ajoelhada, Lamentava em desespero Joana sentiu-se calma E disse: “Não chores não” “Mas não sou o que esperavas, Não terei teu coração!” Joana calou a boca Olhou para o céu, calada Sentia-se meio louca Mas estava apaixonada Disse, então, ela à mulher “Teu nome ainda não sei Mas serei tua rainha Sem que precises ser rei”. “Ãhn?” – Arregalou os olhos A moçoila, tão bonita, Olhou para a Joaninha Disse que chamava Rita. Beijaram-se co’o fervor Daquele amor diferente Joaninha, que estava triste Se convertera em contente Pegou ela o telefone E ligou p’ra Pernambuco Disse à sua mãe Maria Que encontrou João Nabuco A mãe, mesmo entristecida A perdoou, por um triz E desejou que, na vida, A filha fosse feliz. Joaninha, serelepe, Começou a trabalhar Fez quinhentos mil amigos E fixou-se no lugar. Uma se chamava Rita Outra chamava Joaninha Não precisavam de um rei, A rainha e a rainha. |
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