23.3.05

O elemento que sou.

Ser forte? Convenção. Se tanto sustento, quanto
escondo; se tanto sei encardir, quanto fazer
brotar; se sou tanto esconderijo quanto suporte, é
porque sou fraca. Tão fraca que, em mim, me desfaço
e renasço intacta. Intacta? Se me impele força uma
mão qualquer, por suave que seja, desfacelo-me em
mil. Grãos.
A vida? Ela está em mim. Sou cerne e raiz. Sou
paz para os pés, sou chão. A vida é aqui e agora.
De pé. De frente. De bruços. De lado. De corpo e de
corpo. E de alma, por que não?
Sou rocha e, em pedaços, faço-me areia. Sou
quase intacta, mas permeável. Penetram-me os sempre
sentimentos do mundo. Penetra-me a água.
Penetram-me o caos e a vida louca. Sou, do mundo,
tão pouco. Eu sou o Mundo.
Centrada? Talvez. Ou quase nunca. Sou entrópica.
Instável, variável, penetrável, insolúvel. Esparsa
e diversa. Sou díspare.
Se és fertil, em mim germinarás e, com o corpo
debruçado sobre o meu, far-se-á grama de mim. Como
mato, indefinidamente, crescerás, até que alguém te
pode, até que alguém te corte. Todo e qualquer
alguém - faça o que fizer - é de mim que faz parte;
é, de mim, extensão. Fazes tu, também, parte de
mim, por que te sinto.