1.11.05

Se estiver errado


Certamente, alguém já reparou o quanto é difícil empreender esforços numa luta contra si mesmo. Quantas vezes buscamos em nós mesmos o nosso oposto? Quantas vezes, durante nossas vidas, nos esforçamos para mudar as nossas características mais marcantes, aquilo que mais nos é peculiar?

Talvez por isso seja tão difícil viver nos dias atuais. Porque nos lugares em que estudamos, trabalhamos, convivemos – seja com amigos, seja com estranhos – sempre haverá pessoas exigindo que sejamos o que não somos. E para os que não procuram enquadrar-se ao “desejável”, resta uma eterna luta contra a própria personalidade, as próprias características. Será essa luta eterna?


Muitos falam em força de vontade, determinação. A minha mãe, por sua vez, que tem quase 50 anos, certa vez irritou-se, quando lhe cobrei que fosse mais delicada, que procurasse não fazer grosserias, para melhorar a nossa convivência. Segundo ela, certo mesmo está Jung, que diz ser impossível mudar a nossa essência (Junguianos, corrijam-me se eu estiver errado).

Concordo com ele. Acho. Mas aí é que está o xis da questão. O que é a nossa essência? Até onde nos permite ir a arte do auto-conhecimento? Até onde ela é útil? E a força de vontade? Até onde é determinação e a partir de onde é forçar a barra? Viver sem perspectiva de mudança me parece tão inútil quanto viver numa luta eterna contra si mesmo.

Para os espíritas, somos o reflexo do que fomos em outras vidas, em outras dimensões. Estamos aqui e é nosso dever viver, suportar o carma de ser quem somos. Se a tarefa for bem feita, seremos melhores nas vidas que estão por vir. Mas, o que é precisamente essa tarefa bem feita? Para essa pergunta, definitivamente, não há consenso. (Seguidores do espiritismo, corrijam-me, se eu estiver errado!)

Para os budistas, esse conflito eterno de si contra si mesmo é desnecessário e só deixará de existir com o desapego. Para tanto, devemos abrir mão do nosso ego, desacreditar na sua existência. Devemos meditar, nos desapegar de todos os desejos, de todas as obsessões, de tudo. É preciso ter, porém, muita fé para crer que meditar é a solução; para acreditar que nós – de carne e osso – nada mais somos que agregado de energia. Foi assim que disse Sidarta (corrijam-me os Budistas, se eu estiver errado).

Em minha opinião, o ideal seria que houvesse várias dimensões, e que cada um, ao completar certa idade, fosse para a dimensão que lhe conviesse. Seria, no entanto, proibido, depois da grande escolha, que qualquer voltasse a perturbar a paz das dimensões que não se escolheu. Escolher a dimensão seria sinônimo de ser feliz para sempre, embora longe das pessoas que não fizeram a mesma escolha. É uma pena que esta seja, mais que uma opinião, uma idéia. O ideal é apenas o ideal e, se existisse, não teria graça... Dizem!

Eu, por exemplo, – digo eu mesmo, conforme coisa, pessoa, ego, personalidade única, embora passível de generalizações – gostaria de ser mais atencioso, mais organizado, mais metódico. Às vezes, gostaria de ser como o estagiário que trabalhava aqui antes de mim. Está sendo difícil essa grande luta contra mim e, às vezes, contra a minha chefe...


No entanto, enquanto eu não chegar a conclusões junguianas, espiritistas, budistas, católico-apostólico-romanas, vou travando essa luta contra mim que, enquanto dura, parece ser eterna. Ainda há, porém, se não chegar a nenhuma das conclusões que mencionei, a possibilidade de virar “artista” e ir morar em Pirinópolis. Quem sabe na Chapada Diamantina, ou na dos Veadeiros? Ainda existem algumas possibilidades, enquanto nós não acabamos com elas... Vida, corrija-me se eu estiver errado.