6.10.08
15.4.08
O imprevisto e o impossível
Musiquinha nova, by Júnia Marúsia e Victor Longo
Vou ali, mas não vou demorar
Volto já pra cuidar dos teus medos
Trago versos brancos
Mais um girassol
Se eu comprar uma porção de segredos
Sento e conto bem baixinho
P'ros ouvidos que me escutam
Cantar
Escolhe um carrossel
Que eu volto de avião
Explodir uma bolha de sabão
Escutar o sopro da maré
Acreditar na leitura da mão
Acaba com teus medos?
Te faz ficar melhor?
Vou te trazer o que der e o que não der
O imprevisto e o impossível
Buscar jamais me cansará
Se é pra acalmar teu coração
Se é pra, ao te ver cair,
Tentar amortecer
Ao te ver cair
Tento amortecer
Vou ali, mas não vou demorar
Volto já pra cuidar dos teus medos
Trago versos brancos
Mais um girassol
Se eu comprar uma porção de segredos
Sento e conto bem baixinho
P'ros ouvidos que me escutam
Cantar
Escolhe um carrossel
Que eu volto de avião
Explodir uma bolha de sabão
Escutar o sopro da maré
Acreditar na leitura da mão
Acaba com teus medos?
Te faz ficar melhor?
Vou te trazer o que der e o que não der
O imprevisto e o impossível
Buscar jamais me cansará
Se é pra acalmar teu coração
Se é pra, ao te ver cair,
Tentar amortecer
Ao te ver cair
Tento amortecer
4.11.07
Ultimas produções musicais no país do Tango
Desconocidos
Estamos ahí
Creyéndonos serios
Maltratando mujeres
Sí, estamos sí,
Bajo un mismo techo
Compartiendo cubiertos
Estamos ahí
Y además
Este estar me hace mal
¿O hace bien?
Ya no sé lo qué existe entre nosotros dos
Yo lo que sé es que...
... Estamos ahí,
desconocidos,
luchando por un beso
En calles remotas
Que no son las nuestras
En piezas oscuras
Confines
XxXxX
Tocaste de surpresa
Se tu gostas de pegar
no meu cabelo e assanhá-lo
Não diz que dói, pois,
Se eu bagunço o teu
Se tu gostas de brigar
Pra ver quem vai ficar por cima
Deixo que tu fiques por um tempo
E te surpreendo de revira-volta
Ah, não vai ficar assim!
Sei, meu olhar já te diz
Que me tocaste de surpresa
E que obsessão é te tocar também!
É que eu gosto de bolar
as estratégias mais insanas
Só pra ver que um simples gesto teu
Me faz sorrir de uma orelha a outra
Ah, não vai ficar assim!
Estamos ahí
Creyéndonos serios
Maltratando mujeres
Sí, estamos sí,
Bajo un mismo techo
Compartiendo cubiertos
Estamos ahí
Y además
Este estar me hace mal
¿O hace bien?
Ya no sé lo qué existe entre nosotros dos
Yo lo que sé es que...
... Estamos ahí,
desconocidos,
luchando por un beso
En calles remotas
Que no son las nuestras
En piezas oscuras
Confines
XxXxX
Tocaste de surpresa
Se tu gostas de pegar
no meu cabelo e assanhá-lo
Não diz que dói, pois,
Se eu bagunço o teu
Se tu gostas de brigar
Pra ver quem vai ficar por cima
Deixo que tu fiques por um tempo
E te surpreendo de revira-volta
Ah, não vai ficar assim!
Sei, meu olhar já te diz
Que me tocaste de surpresa
E que obsessão é te tocar também!
É que eu gosto de bolar
as estratégias mais insanas
Só pra ver que um simples gesto teu
Me faz sorrir de uma orelha a outra
Ah, não vai ficar assim!
3.10.07
Yo, en la luna
Salve, salve! Tenho que ver se encontro um tempo pra colocar umas fotos-hermanas por aqui. Prometo pra mim mesmo que farei isso em breve. Por enquanto, uma das minhas primeiras obras em espanhol (obras... ha-ha... veja que pretençao - nao tem til nos teclados hermanos, se nota, ¿sim?). É um texto de uma matéria chamada Taller de Escritura Creativa (Oficina de Escritura Criativa). E se nao sabe ler em espanhol, um dicionário deve resolver. Recomendo www.rae.es. Anda, deixa de preguiça e tira a bunda da cadeira!
Yo, en la luna
Estar en la luna es una obsesión histórica. Mientras yo me reducía a mi ausencia de significados, mientras yo era no más que una posibilidad, mientras yo ni siquiera sabía lo que es existir, Galileo Galilei ya existía, ¡y sí que existía! Mientras tampoco sabía Dios que iba a nacer la bisabuela de mi tatarabuela, Galilei se murió intentando probar que nosotros - nosotros que ni siquiera existíamos - no teníamos tanta importancia. No el planeta Tierra, dirección precisa donde vivió la bisabuela de mi tatarabuela, sino el Sol, a donde nadie hasta el momento pudo llegar, estaría en el centro del Universo.
Desde luego, si está tan lejos y es tan caliente ese montón de Helio que sería el centro del Universo, empezemos por la luna, que está más cerca.
Y mientras nacía mi hermano mayor - yo todavía reducido a una posibilidad -, los soviéticos enviaban a órbita a Gagarin para explorar los misterios del Universo. Pobrecito, no logró hacer lo que más tarde hizo Armstrong: cumplir, con la bandera estadounidense, la misión de estar en la luna.
"¿Estuvo?" - algunos todavía preguntan.
"San Jorge y su dragón no lo supieron" - contestan otros.
Seguramente, eso debe haber llenado de rabia la cabeza de los llamados "pueblos primitivos". ¿Desafiar a la Diosa Luna? ¡Que verguenza!
Yo nací, crecí un poco, y sigo cuestionándome sobre lo que dijo Galilei. Para decirlo, tuvo que luchar contra un orden muy bien establecido. Hoy, todos creen que aquello es la verdad. Asimismo, saben que no es posible llegar al Sol - que ya no es más el centro del Universo. Este último lo tienen como infinito. ¡Por Dios!, que manera de pensar...
Nacido, existente, pero no tan seguro de la relevancia que tengo, prefiero dejarlos decir cosas y luego contradecir lo que dijeron antes, infinitamente. Y mientras están en el espacio, en otros planetas, ¿en el Sol?, prefiero quedarme acá en mi habitación. Pensando. Yo, en la luna.
Yo, en la luna
Estar en la luna es una obsesión histórica. Mientras yo me reducía a mi ausencia de significados, mientras yo era no más que una posibilidad, mientras yo ni siquiera sabía lo que es existir, Galileo Galilei ya existía, ¡y sí que existía! Mientras tampoco sabía Dios que iba a nacer la bisabuela de mi tatarabuela, Galilei se murió intentando probar que nosotros - nosotros que ni siquiera existíamos - no teníamos tanta importancia. No el planeta Tierra, dirección precisa donde vivió la bisabuela de mi tatarabuela, sino el Sol, a donde nadie hasta el momento pudo llegar, estaría en el centro del Universo.
Desde luego, si está tan lejos y es tan caliente ese montón de Helio que sería el centro del Universo, empezemos por la luna, que está más cerca.
Y mientras nacía mi hermano mayor - yo todavía reducido a una posibilidad -, los soviéticos enviaban a órbita a Gagarin para explorar los misterios del Universo. Pobrecito, no logró hacer lo que más tarde hizo Armstrong: cumplir, con la bandera estadounidense, la misión de estar en la luna.
"¿Estuvo?" - algunos todavía preguntan.
"San Jorge y su dragón no lo supieron" - contestan otros.
Seguramente, eso debe haber llenado de rabia la cabeza de los llamados "pueblos primitivos". ¿Desafiar a la Diosa Luna? ¡Que verguenza!
Yo nací, crecí un poco, y sigo cuestionándome sobre lo que dijo Galilei. Para decirlo, tuvo que luchar contra un orden muy bien establecido. Hoy, todos creen que aquello es la verdad. Asimismo, saben que no es posible llegar al Sol - que ya no es más el centro del Universo. Este último lo tienen como infinito. ¡Por Dios!, que manera de pensar...
Nacido, existente, pero no tan seguro de la relevancia que tengo, prefiero dejarlos decir cosas y luego contradecir lo que dijeron antes, infinitamente. Y mientras están en el espacio, en otros planetas, ¿en el Sol?, prefiero quedarme acá en mi habitación. Pensando. Yo, en la luna.
2.9.07
Enfim, de volta
Nossa, isso aqui tá cheirando a mofo! Para matar a saudade, posto agora as letras de duas músicas que fiz aqui na Argentina.
¡Saludos!
---
Uma (outra) revolução
Vai quebrar a maré do mal
Talvez seja um revés final
Ou quem sabe um começo
Espesso
De uma história sem final?
Vai ser uma revolução
Tá na palma da nossa mão
Mas acaso não dê tão certo
A gente tenta de outra vez
A gente vai tentar até morrer
Na multidão tão grande
O que é o sangue de um de nós?
Nessa guerra de pedra e pau
Há de dar Deus algum sinal
De que não vai falhar o grito
E, ao invés, vai ecoar...
Mas, se não der, a gente pode rastejar
E deixar rastros deste sangue pelo chão
Os nossos filhos poderão olhar pra trás
E ir adiante
Mais adiante
A gente vai tentar até morrer
Na multidão tão grande
O que é o sangue de um de nós?
---
Conte outra vez
Já escrevi a minha história
Você não deu conta de ler
Vai gostar se eu contar outra vez
Até um, dois, três?
Volto atrás
Vou chegar na mesma hora
Que insisti em ir por mim
E quem sabe a gente pode conversar
E contar até mil
De uma só vez...
Melhor deixar
E ir devagar
Antes que seja cedo demais
Ou retormar do ponto final
E revisar as vírgulas
ao reviver os sonhos
Disputar velhos segredos
Descontar no que há de novo
Vai haver um "sei lá" entre nós
Mas talvez seja bom
(Será?)
Quem vai saber
somos nós dois.
Cada um por si,
Nós dois entre nós.
Melhor deixar
Ir devagar
E desatar aos poucos
Mas, se esse foi
O ponto final
Outros inícios haverá
Outros inícios entre nós.
¡Saludos!
---
Uma (outra) revolução
Vai quebrar a maré do mal
Talvez seja um revés final
Ou quem sabe um começo
Espesso
De uma história sem final?
Vai ser uma revolução
Tá na palma da nossa mão
Mas acaso não dê tão certo
A gente tenta de outra vez
A gente vai tentar até morrer
Na multidão tão grande
O que é o sangue de um de nós?
Nessa guerra de pedra e pau
Há de dar Deus algum sinal
De que não vai falhar o grito
E, ao invés, vai ecoar...
Mas, se não der, a gente pode rastejar
E deixar rastros deste sangue pelo chão
Os nossos filhos poderão olhar pra trás
E ir adiante
Mais adiante
A gente vai tentar até morrer
Na multidão tão grande
O que é o sangue de um de nós?
---
Conte outra vez
Já escrevi a minha história
Você não deu conta de ler
Vai gostar se eu contar outra vez
Até um, dois, três?
Volto atrás
Vou chegar na mesma hora
Que insisti em ir por mim
E quem sabe a gente pode conversar
E contar até mil
De uma só vez...
Melhor deixar
E ir devagar
Antes que seja cedo demais
Ou retormar do ponto final
E revisar as vírgulas
ao reviver os sonhos
Disputar velhos segredos
Descontar no que há de novo
Vai haver um "sei lá" entre nós
Mas talvez seja bom
(Será?)
Quem vai saber
somos nós dois.
Cada um por si,
Nós dois entre nós.
Melhor deixar
Ir devagar
E desatar aos poucos
Mas, se esse foi
O ponto final
Outros inícios haverá
Outros inícios entre nós.
20.11.06
P'ra que caias,
cai cá
Vai e volta
Vai e vem
P'ro nosso fim de semana fictício
P'ra nossa história vagarosa, preguiçosa
Vai e volta
Sem hesitações
Não desaparece tanto tempo
Que eu me sinto livre pra cobrar
"Amor, vem cá,
não me deixe solto" --->
Vê meu rosto mais de perto
Não te importa.
Tudo bem.
Os meus meneios vão janela a fora,
ao passo largo que teu passo explora
Meus segredos e tabus
Decifra-me,
que eu te desvendo e te descubro,
Eu cubro tua pele.
Meu suor vai te reduzir à quinta parte.
Parte e volta e me reparte em mil
E me refaz
Que eu fico inteiro
seu
[[Vou te contar uma história p'ra que durmas bem,
te fazer uns folguedos entre os dedos teus
Que me detêm...]]
Vai e vem
P'ro nosso fim de semana fictício
P'ra nossa história vagarosa, preguiçosa
Vai e volta
Sem hesitações
Não desaparece tanto tempo
Que eu me sinto livre pra cobrar
"Amor, vem cá,
não me deixe solto" --->
Vê meu rosto mais de perto
Vai, mas volta
Tranca a porta pra ninguém entrar
E deixa o nosso amor fluir
Eu juro, vou deixar
Que te percas, caias... Cai cá sobre mim
<--
Não te importa.
Tudo bem.
Os meus meneios vão janela a fora,
ao passo largo que teu passo explora
Meus segredos e tabus
Decifra-me,
que eu te desvendo e te descubro,
Eu cubro tua pele.
Meu suor vai te reduzir à quinta parte.
Parte e volta e me reparte em mil
E me refaz
Que eu fico inteiro
seu
[[Vou te contar uma história p'ra que durmas bem,
te fazer uns folguedos entre os dedos teus
Que me detêm...]]
9.11.06
Cierres y reinicios de Jerónimo*
Chamo-me Jerónimo. No amor, sempre tive um azar daqueles. Desde jovem, nada dava certo. Lembro ter demorado bastante para dar o primeiro beijo: só foi aos 18, com Claudia, em frente ao Obelisco. Chegou a dar namoro, mas dez dias depois, ela veio me dizer que a “química tinha acabado”. Senti-me reduzido a dimensões atômicas. Mais tarde, descobri o problema – ela andou fuxicando com outras garotas que o meu beijo era ruim. E o cochicho chegou a mim.
Para melhorar, fiz o teste do copo com gelo. Aprendi a beijar. Tão bem, que as outras mulheres que tive me chamavam de Bocaloca. Aos 19, conheci Rita, uma brasileira filha de portugueses. Ela não resistia: todas as vezes, ao fim do ósculo, ela respirava fundo:
– Ai, Jerónimo, como é bom! – dizia, ofegante.
Certa feita, eu sentia já haver superado Claudia, cem por cento. Poderia então dizer que amava Rita e falar tu és o meu primeiro amor, ó querida. Ela – hoje sei – poderia ter-me dito o mesmo. Todavia, ninguém disse nada. Até o dia em que, por decisão dos pais, Rita teve de se mudar para Portugal. E jamais voltou. Tentamos um namoro à distância, mas não durou um mês sequer. Telefone, naqueles tempos, custava caro demais. Webcam e skype nem pensavam em existir. E o principal, devo confessar, é que namoro sem beijo não dá. Não para Bocaloca.
Esse amor durou mais tempo para virar água passada. Em copos cheios d’água, tentei a mágoa afogar, mas ela virou peixe e criou guelras. Em canecões com maracujina, tentava fazê-la dormir. Com efeito, eu adormecia só, mas a mágoa, sempre acordada, perseguia-me nos sonhos. Para espantá-la, tentei ficar acordado com xícaras de café. Também não surtiu efeito. Dessa vez, a mágoa resolveu dormir. Eu, no entanto, estava lá, sempre desperto, a observá-la.
Sentimento dos infernos, pensava, vai-te embora. Dirigi-me a um bar qualquer, ia afogar a danada em copos de cachaça brasileira. Dessa vez, ela não poderia resistir. Decerto que não. Chegando lá, no entanto, nem foi preciso pedir o primeiro copo. Conheci Esmeralda. E num piscar de olhos, a mágoa morreu. Rita virou água passada. Passou como o vento. E que esteja bem, a observar as gaivotas de Lisboa, a lembrar-se de mim. Ó, meu amor, dirá.
Esmeralda, vi desde o começo, era muito espevitada. Mal notei que a amava, descobri que era puta. Como fui tolo! Aquele bar de bar não tinha nada. Era um cabaré. Foi na mesma noite, quando a conheci – durante a primeira vez, o primeiro gozo –, que percebi, ó, Esmeralda, como te amo. Segundos depois, cobrou-me o dinheiro. Duzentos pesos.
¡Hija de puta!
Em vez de grana, paguei-lhe uns sopapos na cara, deixei-lhe os olhos arroxeados e fui-me embora. A essa altura, eu já tinha vinte anos. Quase vinte e um.
Não passou tanto tempo, até que conheci Linda. Uma santa. Daquelas prontas para casar. Pro meu gosto, santa demais. Pegar nas mãos podia. Beijar selinho também. Beijos de língua, só nos momentos mais sensuais. Daí pra frente, nada. Só com casamento. Eu que não me caso, vai que não encaixa...
Com Linda, passei dois anos. Tempo recorde. Dois anos de jejum. Santo Deus! E foi exatamente no dia seguinte ao nosso segundo aniversário de namoro que ela encontrou um outro homem, santo que nem ela: do pau oco. Flagrei os dois na minha cama – ele fazia com Linda tudo aquilo que eu, durante 731** dias, havia sonhado poder fazer uma vezinha que fosse.
¡Desgraciados!
Saímos roxos ele, ela e eu. Tinha vinte e três, quase vinte e quatro anos. Os dois escaparam vivos, e pensei em suicídio pela primeira vez. Melhor não. Não vale a pena deixar de viver por quem não merece a vida que tem. Segui adiante, sem querer saber de mais ninguém. Por muito tempo, não quis. Até que, aos trinta, conheci...
Jorge – um lindo rapaz de origem nobre e olhos azuis, cuja família ganhava fortunas fabricando e vendendo vinhos. Ele vinha de Mendoza. Morava em Buenos Aires havia apenas sete meses. Ao seu lado, aprendi porque tanto havia sofrido com as mulheres: são umas feitas para as outras. Ninguém as compreende senão elas mesmas. Se forem boas amantes, melhores serão como amigas. Se não forem boas amigas, de que me servirão?
Descobri a pós-modernidade. Desvendei os meus melhores mistérios. O amor, ensinou-me Jorge, pode ter mil faces – quantas a gente quiser. Findaram, então, as minhas intermitências. Passei a ser feliz. Aprendi que amando é possível ir longe, atravessar fronteiras, ir além do que se imagina ser capaz.
Com ele, mudei-me para Amsterdã. Casamos-nos, com comunhão de bens e tudo. E viajamos por todo o mundo. Juntos, moramos em Oslo, Paris, Lisboa. Por lá, dei de cara com Rita. Apresentei-lhe Jorge. Deram-se muito bem os dois. Bruxelas, Barcelona, Brighton, Roma. Em todos os lugares, Jorge e eu: aos beijos seguros, amor seguro, sexo seguro. No Vaticano, às escondidas, fomos abençoados por Deus.
Na África, estivemos em Joanesburgo, Abuja, Bissau. E seguimos, com o aval dos deuses negros... Aceitos por Alá, viajamos a Beirute, Jerusalém. Atravessamos o Índico, chegamos a Canberra, Wellington, Tóquio, Jacarta.
À luz da liberdade, navegamos o Pacífico. San Francisco, Otawa, Guadalajara. E voltamos, enfim, à América do Sul. Fomos a Caracas, Bogotá, Quito... Mendoza, Buenos Aires – lar-doce-lar. Por Iguaçu, chegamos ao Brasil. De tantas viagens e beijos, paramos em Salvador. Até hoje, por aqui estamos.
O nosso apartamento fica em frente à praia de Amaralina. Jorge adora ouvir aquela música que diz assim, na praia de Amaralina, vi dois camarões sentados, falando da vida alheia, êta camarões malvados...
Hoje, tenho quarenta e quatro anos. Jorge, trinta e sete. Fiz-me alfaiate. Jorge dá aulas particulares de espanhol. Já não temos tanto dinheiro quanto costumávamos ter. Como sempre, estamos ele e eu a sós. De acordo. Consonantes. Quatro olhos: dois pretos como jaboticabas; dois azuis como o mar de Itapuã. Olhares vermelhos, chorosos.
Eu acho. Ele também acha. Já é hora de acabar. Jerónimo e Jorge, Jorge e Jerónimo – nossos quatro olhos vermelhos miram o papel que precisamos assinar. É o dia do divórcio. As intermitências estão de volta. Hoje, mais um fim. Amanhã, o recomeço.
---
* Em português, finais e reinícios de Jerónimo, trabalho final da disciplina Oficina Avançada de Narrativas.
** 365 + 366 - Um dos dois anos era bissexto.
Para melhorar, fiz o teste do copo com gelo. Aprendi a beijar. Tão bem, que as outras mulheres que tive me chamavam de Bocaloca. Aos 19, conheci Rita, uma brasileira filha de portugueses. Ela não resistia: todas as vezes, ao fim do ósculo, ela respirava fundo:
– Ai, Jerónimo, como é bom! – dizia, ofegante.
Certa feita, eu sentia já haver superado Claudia, cem por cento. Poderia então dizer que amava Rita e falar tu és o meu primeiro amor, ó querida. Ela – hoje sei – poderia ter-me dito o mesmo. Todavia, ninguém disse nada. Até o dia em que, por decisão dos pais, Rita teve de se mudar para Portugal. E jamais voltou. Tentamos um namoro à distância, mas não durou um mês sequer. Telefone, naqueles tempos, custava caro demais. Webcam e skype nem pensavam em existir. E o principal, devo confessar, é que namoro sem beijo não dá. Não para Bocaloca.
Esse amor durou mais tempo para virar água passada. Em copos cheios d’água, tentei a mágoa afogar, mas ela virou peixe e criou guelras. Em canecões com maracujina, tentava fazê-la dormir. Com efeito, eu adormecia só, mas a mágoa, sempre acordada, perseguia-me nos sonhos. Para espantá-la, tentei ficar acordado com xícaras de café. Também não surtiu efeito. Dessa vez, a mágoa resolveu dormir. Eu, no entanto, estava lá, sempre desperto, a observá-la.
Sentimento dos infernos, pensava, vai-te embora. Dirigi-me a um bar qualquer, ia afogar a danada em copos de cachaça brasileira. Dessa vez, ela não poderia resistir. Decerto que não. Chegando lá, no entanto, nem foi preciso pedir o primeiro copo. Conheci Esmeralda. E num piscar de olhos, a mágoa morreu. Rita virou água passada. Passou como o vento. E que esteja bem, a observar as gaivotas de Lisboa, a lembrar-se de mim. Ó, meu amor, dirá.
Esmeralda, vi desde o começo, era muito espevitada. Mal notei que a amava, descobri que era puta. Como fui tolo! Aquele bar de bar não tinha nada. Era um cabaré. Foi na mesma noite, quando a conheci – durante a primeira vez, o primeiro gozo –, que percebi, ó, Esmeralda, como te amo. Segundos depois, cobrou-me o dinheiro. Duzentos pesos.
¡Hija de puta!
Em vez de grana, paguei-lhe uns sopapos na cara, deixei-lhe os olhos arroxeados e fui-me embora. A essa altura, eu já tinha vinte anos. Quase vinte e um.
Não passou tanto tempo, até que conheci Linda. Uma santa. Daquelas prontas para casar. Pro meu gosto, santa demais. Pegar nas mãos podia. Beijar selinho também. Beijos de língua, só nos momentos mais sensuais. Daí pra frente, nada. Só com casamento. Eu que não me caso, vai que não encaixa...
Com Linda, passei dois anos. Tempo recorde. Dois anos de jejum. Santo Deus! E foi exatamente no dia seguinte ao nosso segundo aniversário de namoro que ela encontrou um outro homem, santo que nem ela: do pau oco. Flagrei os dois na minha cama – ele fazia com Linda tudo aquilo que eu, durante 731** dias, havia sonhado poder fazer uma vezinha que fosse.
¡Desgraciados!
Saímos roxos ele, ela e eu. Tinha vinte e três, quase vinte e quatro anos. Os dois escaparam vivos, e pensei em suicídio pela primeira vez. Melhor não. Não vale a pena deixar de viver por quem não merece a vida que tem. Segui adiante, sem querer saber de mais ninguém. Por muito tempo, não quis. Até que, aos trinta, conheci...
Jorge – um lindo rapaz de origem nobre e olhos azuis, cuja família ganhava fortunas fabricando e vendendo vinhos. Ele vinha de Mendoza. Morava em Buenos Aires havia apenas sete meses. Ao seu lado, aprendi porque tanto havia sofrido com as mulheres: são umas feitas para as outras. Ninguém as compreende senão elas mesmas. Se forem boas amantes, melhores serão como amigas. Se não forem boas amigas, de que me servirão?
Descobri a pós-modernidade. Desvendei os meus melhores mistérios. O amor, ensinou-me Jorge, pode ter mil faces – quantas a gente quiser. Findaram, então, as minhas intermitências. Passei a ser feliz. Aprendi que amando é possível ir longe, atravessar fronteiras, ir além do que se imagina ser capaz.
Com ele, mudei-me para Amsterdã. Casamos-nos, com comunhão de bens e tudo. E viajamos por todo o mundo. Juntos, moramos em Oslo, Paris, Lisboa. Por lá, dei de cara com Rita. Apresentei-lhe Jorge. Deram-se muito bem os dois. Bruxelas, Barcelona, Brighton, Roma. Em todos os lugares, Jorge e eu: aos beijos seguros, amor seguro, sexo seguro. No Vaticano, às escondidas, fomos abençoados por Deus.
Na África, estivemos em Joanesburgo, Abuja, Bissau. E seguimos, com o aval dos deuses negros... Aceitos por Alá, viajamos a Beirute, Jerusalém. Atravessamos o Índico, chegamos a Canberra, Wellington, Tóquio, Jacarta.
À luz da liberdade, navegamos o Pacífico. San Francisco, Otawa, Guadalajara. E voltamos, enfim, à América do Sul. Fomos a Caracas, Bogotá, Quito... Mendoza, Buenos Aires – lar-doce-lar. Por Iguaçu, chegamos ao Brasil. De tantas viagens e beijos, paramos em Salvador. Até hoje, por aqui estamos.
O nosso apartamento fica em frente à praia de Amaralina. Jorge adora ouvir aquela música que diz assim, na praia de Amaralina, vi dois camarões sentados, falando da vida alheia, êta camarões malvados...
Hoje, tenho quarenta e quatro anos. Jorge, trinta e sete. Fiz-me alfaiate. Jorge dá aulas particulares de espanhol. Já não temos tanto dinheiro quanto costumávamos ter. Como sempre, estamos ele e eu a sós. De acordo. Consonantes. Quatro olhos: dois pretos como jaboticabas; dois azuis como o mar de Itapuã. Olhares vermelhos, chorosos.
Eu acho. Ele também acha. Já é hora de acabar. Jerónimo e Jorge, Jorge e Jerónimo – nossos quatro olhos vermelhos miram o papel que precisamos assinar. É o dia do divórcio. As intermitências estão de volta. Hoje, mais um fim. Amanhã, o recomeço.
---
* Em português, finais e reinícios de Jerónimo, trabalho final da disciplina Oficina Avançada de Narrativas.
** 365 + 366 - Um dos dois anos era bissexto.