30.10.05

Solidão acompanhada

É muito estranho perceber que sempre tenho a sensação de estar sozinho, por mais que haja pessoas à minha volta. Vez ou outra, aparece-me alguém que, a princípio, julgo ter vindo para acabar de vez com a minha solidão. Há pessoas, ainda, que, mesmo sem aparecer, estão sempre comigo. Outras (poucas) aparecem constantemente. Talvez possa identificar uma ou duas que, quando estão aqui, estão por querer a minha companhia, apenas pelo que ela é.

Mas sinto que elas se preocupam com seus problemas, que eu me preocupo com os meus e que todos fingimos estar preocupados com os problemas dos outros. E isso é tão inconsciente que ninguém percebe seu próprio fingimento, seu próprio esforço para efetivar um auto-engano.

Não sei se já escrevi isso por aqui, mas às vezes penso que Renato Russo estava enganadíssimo quando disse que "a humanidade é desumana". A questão é que a humanidade é humana demais. Para, mim, ser humano é ser isso que nós somos, é fazer das coisas como elas estão. Desumano é olhar para trás e perceber quantas besteiras já fizemos. É olhar para o presente e perceber quanta coisa a gente tem deixado acontecer... Meu Deus!

E estamos você, eu, todos nós, preocupados com os nossos problemas, nossos meros problemas: nossas ilusões e desilusões amorosas, nossas conversas de msn, nossos blogs e fotologs. É isso que nós somos. E é constatando isso, que olho para mim mesmo, rodeado de gente, e me sinto solitário. Mesmo que essa sensação venha e vá, mesmo que ela se resuma, muitas vezes, apenas a frações de segundos, ela para mim soa como eterna.

---

Desde ontem, estou muito com uma música na cabeça, que ouvi algumas vezes durante o fim de semana na casa do Bão. É um samba do Adoniram Barbosa, e fica especialmente bonita quando cantada pela Elis Regina. Segue abaixo, um trecho dela:

"De tanto levar 'frechada' do teu olhar

Meu peito até parece sabe o que?

'Táubua' de tiro ao 'álvaro'

Não tem mais onde furar"

Tiro ao 'Álvaro' - Adoniram Barbosa




27.10.05

Futuro óbvio

Tentei fazer uma música com isso, mas no fim das contas, desisti por me conformar com a incompetência. Ultimamente, não tenho conseguido completar as músicas que começo a compor. Isso tem me dado uma sensação de limitação tremenda. Às vezes, vem à mente a vontade de voltar a estudar violão, levar a sério. Eu sei que ajudaria. Tenho certeza. Mas eu é que não ajudo. Nem eu, nem o tempo. Como se pode verificar no título do post, o nome do texto é "Futuro óbvio". Aí vai:

Amor, me dê um pouco do seu glamour
Azuis as coisas ficam quando você me dá
Me dá um pouco dessa paciência
Amor, me ensina essa ciência de viver assim

Sem expectativas que te aflijam
E que finjam que o futuro é óbvio
Sem pensar que a Terra gira num sentido só

Amor, me dê um pouco da sua paz
E faz que eu nunca mais pense em devolver, sequer.
Se quer meu corpo em troca, amor, posso te dar
Te dar meu punho, meu pescoço, meu calcanhar
E expectativas que te aflijam
E falácias de um futuro óbvio
Meu cabelo, minha axila, minhas costas...

Me diz se fui eu
Que te ensinei o que mais quero aprender...
Fui eu?